Surtos de Covid-19 em Araraquara confirmam que retornar aulas não é seguro; Dois CERs já foram interditados, um deles com mais de 20% dos servidores infectados
Exatamente conforme previsto pelo SISMAR e pelos cientistas ouvidos pelo Sindicato, Araraquara registra surtos de Covid nas escolas municipais após retomada das aulas presenciais, neste mês de abril.
Dois CERs já foram interditados por sete dias a partir de hoje, 26: CER José Alfredo do Amaral Gurgel, no Jardim Adalberto Roxo, com mais de 20% dos servidores contaminados (7 infectados, entre 30 servidores), e o CER Eloá do Valle Quadros, na Vila Xavier, com outros dois casos confirmados.
Todos eles estavam com a doença há pelo menos 7 dias, e transmitindo o vírus. Não é possível saber se estes nove servidores infectados não contaminaram outras pessoas, seus colegas, alunos ou familiares.
Outros casos virão à tona no decorrer da semana e mais unidades podem ser interditadas. Casos no paço municipal estão chamando a atenção e serão investigados pelo Sindicato.
Outros 55 servidores municipais da Educação de Araraquara também tiveram teste positivo, segundo a Prefeitura, mas eles já não estavam mais transmitindo o vírus. Isso significa que eles tiveram a doença e não souberam. Quantas pessoas eles podem ter contaminado anteriormente por serem assintomáticos (que têm a doença sem sintomas, mas transmite do mesmo jeito)?
Após estes surtos na cidade, a pergunta que fica é: quantas mortes serão necessárias para que a Prefeitura cancele o retorno presencial das aulas em Araraquara?
Poucos testes
A testagem de covid-19 nos servidores é importante. Mas não adianta nada testar uma vez só, já que todos estão sujeitos a contaminação após os testes. A testagem tem que ser periódica. O ideal, de acordo com especialistas, é de três em três dias, mas pode ser uma vez por semana, pelo menos.
Ou seja, a testagem em Araraquara feita uma só vez antes do retorno presencial dos alunos é só encenação para dar uma enganosa sensação de segurança.
A Prefeitura só refez testes nos servidores das unidades visitadas pelo SISMAR. E foi com esta segunda testagem que os surtos nos dois CERs foram descobertos, provocando as interdições por uma semana.
O SISMAR faz um apelo aos servidores: não omitam casos. Isso não protege a Prefeitura, nem seus colegas e nem você. Pelo contrário, omitir informações pode piorar muito o quadro de contaminações.
Não é bola de cristal, é ciência
O SISMAR ouviu especialistas como o Dr. Domingos Alves, professor e pesquisador da USP, que estuda a Covid-19 desde o início da pandemia, e o médico infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Ulysses de Matos. Ambos foram claros ao dizer que o retorno das aulas presenciais em Araraquara neste momento da pandemia não é seguro.
Dr. Domingos Alves tem um estudo feito a pedido do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) mostrando que, para que as aulas possam voltar, a pandemia precisa estar muito mais controlada do que está hoje em Araraquara.
Outro estudo científico, este da Fiocruz, também aponta que os números da pandemia precisariam estar muito menores para que seja considerado seguro retornar as aulas presenciais.
A Prefeitura diz estar seguindo a ciência, mas não apresentou nenhum estudo comprovando que o retorno é seguro.
Por isso, repetimos a pergunta: quantas mortes serão necessárias para que a Prefeitura cancele o retorno presencial das aulas em Araraquara?
Exatamente o contrário
Mesmo com os casos alarmantes, a Prefeitura emitiu nota que foi reproduzida por boa parte da imprensa dizendo que as interdições dos CER garantem a segurança dos servidores e alunos.
Pois, é exatamente o contrário. As interdições mostram claramente que as escolas não são ambientes seguros neste momento da pandemia. O que está protegendo os servidores neste momento é a greve sanitária.
Ou vamos aceitar que alguns servidores morram para poder deixar as escolas abertas? Quantos? Quantas mortes serão necessárias para que a Prefeitura cancele o retorno presencial das aulas em Araraquara?
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